"Eu quero um pacto com a simplicidade. Limpar os desejos ocultos. Eu quero ser analfabeta das miudezas, dos disse-que-disse. Meus bolsos, meus bolsos se desfazem das pedras de uma vida inteira carregadas pro vôo das jóias."

Maísa Picasso

9.10.06

Chegança

Mesmo que eu desapareça,
ainda assim, eu pareceria grande.
Que do meu peito embalo conto,
narrar-se apenas.

E de meus modos desfaço e apronto
recrio e existo,
ora perdido, ora encanto.

E se meus medos rebeldes
parecem tantos,
olho-os com maternal cuidado.
Que no mesmo mar que navego
aprumo,
no mesmo mar,
no entanto.

Eu canto nessa romagem
ora partida, ora chegança.
Que meu peito sussurra noite,
e meu canto é feito neblina .
Um não ser findo.
Um quase sempre,
quase alma.

4 comentários:

Pablo Carvalho disse...

É o desafio de quem escolhe seguir adiante do mundo, para além das coisas. Que mesmo navegando para longe, existe o lastro. Existe o prumo. Lançando ele, a gente pensa que é fundo, mas é só porque ainda tem pouca corda. Não mergulhar-se, mas subir mais alto, até não precisar mais barcos, mares ou cartas de navegação...

Pablo Carvalho disse...

Texto lindo, Amelie. Acho lindo como vc se deixa transparecer nas entrelinhas. O que não diz em palavras, escapa em poemas. Te amo.

Anônimo disse...

Me espanto a cada palavra, desatino em lucidez. Que coisas, que coisas que escreve! Sinto entrar em minha alma, com aquele atrevimento de poeta que nem pede licença, o peso de um sorriso, mesmo que longe e inexato, mesmo que nem sorrido.
Que coisa, menina, que coisa!

Anônimo disse...

Que coisa linda, minha cunhada querida e poetisa.
Bom ver seu eu embalada assim, em versos que flutuam.

Beijo, beijo.