Ainda que me diga "não" eu continuarei. Porque já não sou ou já não sei. Porque já é grande a tua existência em mim. Ainda que consumam, que escureçam, que partes dantes mergulhadas emerjam. Ainda que o norte troque de lugar e o passado ressurja, eu já não paro. Já não sei reparar os nãos e os pequenos acertos de hoje se firmam quando enxergo os grandes, grandes montes ali na frente. E o verde que se vai nascendo nas suas encostas e as flores e borboletinhas inteiras que me dão de herança até que eu seja inteira no mundo.
Não, não cabem papéis trocados, pés calçados, roupas vistosas. Não passam como passavam os mesmos dias. Que domingos e segundas são iguais e co-existem juntas, ao mesmo tempo. Não olho como antes, vidraças embaçam e limpam e meus óculos são cada dia menos sociais e mais inteiros.
As flores exalam em jardins diferentes. E se fecham murchas, às vezes, mas eu já não sinto. Porque por mais que eu resista, o gosto de que é vida sobrevém e mesmo que seja cimento e não meus pés de barro, ô, Nietzsche, e mesmo que aqui embaixo um carnaval aconteça, o ar da montanha, ainda rarefeito, é preferível, porque de lá, o mundo é toda a vista. E eu, eu enxergo longe.
Escrevi esse texto faz tempo e hoje ele fez surgir em mim um amor enorme.
Escrevi esse texto faz tempo e hoje ele fez surgir em mim um amor enorme.
Um comentário:
Com você eu enxergo mais longe. Que do alto da montanha do que somos e do que nos tornamos, vemos muito mais, acima dos vales, acima das nuvens e das neblinas. Vemos os rios que nos conduzirão e aonde eles nos levam. Vemos as florestas das nossas dúvidas se abrirem em clareiras, claras de uma clarividência possível porque juntos vemos também o que está às costas um do outro. Trezentos e sessenta graus, de todos os degraus, com óculos de grau, para ver maior e para ver de perto. Óculos inteiros, meu amor, cada vez menos de leitura, cada vez mais óculos de sol, feitos e prontos para enxergar à luz do dia.
Te amo.
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